No Facebook foi criado um grupo com este nome: «Dá-me um abraço e não digas nada». De vez em quando isto aparece-me à frente e eu... rio-me. Mas não faço a minha adesão. Abraços são sinal de maturidade. Nós, quando somos mais novos, queremos é libertar-nos do sufoco dos nossos pais (para aqueles que não os têm só funcionais) e detestamos que se pendurem em nós. Eu durante muito tempo ignorei os abraços. Hoje penso que um abraço é melhor do que um edredão de penas ou um casaco de marta. Um abraço pode salvar vidas. Quando vos digo que é sinal de maturidade, é porque o abraço vem muito depois da fase dos beijos com língua, dos apalpões, ou mesmo - quando eles são mais velhos, e para mostrar que o material é «deles» - das palmadas no rabo das sócias. Quem faz isto não dá braços. Isto é aliás coisa que me enjoa profundamente: quando os homens batem nas nádegas das suas mulheres, como quem dá umas palmadinhas na mula para ela andar. No lombo. Ah, rico lombo! Homem que me fizesse isto ia com os porcos (já que se menciona o reino animal). Sim, quem dá palmadinhas no rabo da sócia não dá abraços. Quem quer coleccionar amantes também prescinde dos abraços. Ou então é um amante de sonho. E vai ser complicado esquecê-lo/a. Imaginem alguém que se dá incondicionalmente, que faz tudo o que vem nos manuais, e mais: que dá abraços. Mas depois, é parceiro/a que se vai embora. Isto, a acontecer, é terrível. Porque nós, apesar de tudo, esquecemos mais facilmente os que foram egoístas e secos, e até estúpidos. Aqueles que entram e saem, dizendo muito pouco. Esses vão-se embora, nunca mais responderão a um sms nosso, mas eram descartáveis. «Venha outro», pensamos nós. Mas quando eles - ou elas - são doces e ternos, abraçam e beijam como se não houvesse amanhã (e não vai haver), então aí é tramado. Custa-nos mais a sair da pele e do pensamento do que José Sócrates da liderança do PS. Os abraços poderão ser a cereja no topo do bolo. Quando depois de uma noite ou manhã (ou tarde?) de sexo, e estando o par ainda em dúvida, vem o abraço selar o momento - momento que não é só mais um portanto. O abraço pode ser mais importante que o "sim" no altar. É que até chegarem lá, muitos ficam pelo caminho... É possível que os abraços sejam mais carência de mulheres, ainda que os homens passem a vida a despedir-se com eles. As mulheres aquecem-se nos abraços, os homens temem-nos. Uma coisa são quatro braços entrelaçados, outra coisa são aqueles abraços que estalam nas costas um do outro.Há amigos meus que precisavam de se iniciar na arte do abraço. Porque quem está pronto para os abraços está pronto para muitas outras coisas. Um abraço não é uma queca de meia hora. Um abraço dá-se às pessoas de quem se gosta. Não precisas de ser boazona, ou Gianecchini, para levar um abraço. Levas por merecer. Porque faz bem. Há coisas que se curam com um abraço, sobretudo momentos difíceis. Há pessoas que estão sozinhas, e às vezes só precisavam de um abraço. Mesmo sem palavras. Isto podia salvá-las do seu eco vazio e mudo. Este meu texto, ligeiramente freak, há-de servir para pôr gente a pensar. E a abraçar. Gostava que os rapazes (já nem digo os homens mais velhos e muitos deles embrutecidos) passassem a abraçar mais. Vão ver que é uma questão de hábito. Só custa o primeiro, porque parece ridículo. Depois os outros seguem-se, e dão por vocês a gostar mais e mais - questionando-se até acerca da vossa virilidade... Os tais abraços em que vocês dão umas palmadas nas costas do companheiro não contam. Falo de coisas ternas e suaves. No fundo falo de amor. E o amor é uma linguagem universal, não é? Eu cada vez mais acho que sim. E que nos salva. Amor e abraços em tempo de FMI é bom. Ainda é à borla.
Cidália Dias
Para quem não conhece, gosto de espreitar a crónica O sexo e a Cidália da revista do DN.