12/11/09

A depressão

Quando tinha depressões era tudo muito difícil, faltava-lhe ânimo, não tinha esperança de se curar e tinha medo que o público soubesse. Tentei dar-lhe perspectivas e esperança, dizia-lhe que nem tudo era mau, que havia coisas belas na vida, mas infelizmente não resultou. Pensámos que conseguiríamos, com amor mas às vezes o amor não basta.

Teresa Enke

Quando vi anunciar a morte do jogador, fiquei sobretudo surpresa. Na altura não percebi como, nem porquê. As respostas foram ainda mais tristes.
Não acompanhei nada da sua história e pouco mais tinha do que imagens dele enquanto guarda-redes do Benfica. Agora surgem linhas e linhas sobre a morte da filha, a depressão... as imensas qualidades como desportista e ser humano.

Mulher, uma menina de 8 meses, trabalho seguro, titularidade na selecção do seu país, imagino que muito dinheiro no 'banco'... e, para ele, nada... Muito triste pelos 32 anos e pela constatação do poder de uma depressão.

7 comentários:

Shadow disse...

Vou deixar aqui o que de melhor li sobre isto. E pasme-se foi do "Record" de hoje, pela mão do Miguel Gois dos gato.

Cada vez que os meus filhos se recusam a comer uma banana no final de uma refeição, lá começo eu a contar a história verdadeira de um guarda-redes do Benfica que, não há muito tempo, durante um jogo na Luz, aproveitou a bola estar no meio-campo adversário e, sentindo uma súbita quebra de energia, retirou da sua mochila, colocada atrás da baliza, uma banana, que engoliu ali à frente de toda a gente, em poucos segundos. A moral da história é: até um jogador do Benfica, às vezes, precisa de se alimentar. A partir daí, nunca mais se lhes ouviu quer um protesto, quer um queixume, em relação à banana. Pelo contrário, passaram a comê-la em silêncio, como se de um ato solene se tratasse. Esse guarda-redes, o homem da banana, era Robert Enke.

Não só lhe devo, portanto, o facto de ter evitado que Carlos Bossio tenha representado mais vezes o Benfica em jogos oficiais, como também a surreal preponderância que conquistou nos hábitos nutricionais da minha prole. (Ainda que, por vezes, sinta algum ressentimento por ele não ter também optado por ingerir uma sopa de legumes aos 57' do Benfica-Desportivo das Aves da época 2000/2001. Não lhe tinha custado nada, e a mim facilitar-me-ia bastante a vida doméstica.)

Anteontem, a tragédia abateu-se. E a minha história - que, admitamos, já não era espetacular - passou a ser ridícula. O homem que comia bananas a meio dos jogos para ganhar energia foi incapaz de tomar antidepressivos para reconquistar o ânimo.

Cris disse...

Adorei... obrigada!

Anónimo disse...

Cada um com os seus problemas...simplesmente há coisas que nos fazem explodir. :(

Kok disse...

Ao comentário da Shadow, bem como ao episódio do "gato" haveria muito a acrescentar sobre este ser humano que demonstrava ser uma excelente pessoa.
Mas nada mais acrescento!

Cris disse...

Concordo com ambos.

Lactrodectus, é verdade que há coisas que nos fazem explodir e o modo como reagimos a elas, também depende muito da forma como elas nos atingiram e dos estragos que fizeram. Compreendo que, perante situações como esta, os estragos foram irreparáveis...

Kok, havia mesmo muito mais para dizer... Eu, por exemplo, não me lembrava desta história da banana, mas depois de a ler visualizei-a. Nao sei em que jogo foi, mas vi-a e foi falada durante um bom tempo.

Bom fim de semana.

Cris disse...

Ainda vos digo mais...

Ontem fui procurar o artigo do Miguel Góis no Record e encontrei por lá uma carrada de comentários negativos. Quem não compreendia como é que tinham deixado publicar este artigo, quem apontava uma grande falta de mau gosto pelo último parágrafo e tantas coisas mais a que não dei importância.

Claro, que todos temos direito às nossas interpretações e opiniões, mas eu não vi nada disso nestas palavras. De uma forma simples vi alguém destacar outra pessoa como um exemplo e a lamentar que, por todas as qualidades que tinha, não tenha tido força para resistir...

Kok disse...

Há pessoas que têm dificuldade em ver para além da sua própria cabeça!
Nem se dão ao trabalho de se deterem no conteúdo e só vêem a forma das coisas!
Mas que sou eu...
Bêjo!