Preciso...

Cheguei a casa e, pela primeira vez desde que ali está a olhar para mim, liguei as luzes da árvore de Natal. De seguida, acendi uma vela perfumada e coloquei-a a cintilar em cima do móvel.

Hoje acreditar que a luz está lá não foi suficiente e tentei desafiar a ajuda dos meus outros sentidos.

Já tive a minha dose de cabeçadas, já me senti destroçada e, mesmo sem nunca perder o norte, já naveguei sem rumo certo... mas sempre, lá no fundo, sem conseguir explicar, compreender ou mesmo visualizar, acreditei numa luz, que estará lá só para mim.

Muitos dos muros, dos contratempos, das injustiças, das arrelias que se têm atravessado no meu caminho ainda hoje não os consigo entender. No entanto, preciso agarrar a esperança de que há uma razão para eles estarem ali, naquela curva e não noutro lado qualquer.

Divagam muitos, que o que não nos mata, torna-nos mais fortes, mas não deixa de ser verdade que há golpes de que nos custamos a levantar.

Se a injustiça nos bate de frente, mesmo quando nada o faz prever... preciso ter fé que é porque estamos à altura dos novos desafios.

Para tirar a cabeça do travesseiro todos os dias, preciso acreditar numa realidade justa, de bons sentimentos, de relações verdadeiras... mas é o mundo dos crocodilos que domina.

Resta-me ir até esse mundo, porque preciso do que ele me coloca na conta a cada final do mês, e, com um pouquinho da sorte que tem faltado, construir um cantinho onde todos os dias me apeteça regressar.