12/10/11

Vida tão estranha

Come o jantar com a televisão ligada, a saltar canais e restringindo-se à cerveja solitária que veio como oferta na entrega. Mas há algo de entristecedor em comer sozinho, de ombros encurvados no sofá nesta casa estranha e, pela primeira vez naquele dia, sente um acesso de desespero e solidão. Ultimamente, o desgosto assemelha-se a caminhar sobre um rio congelado; a maior parte das vezes, sente-se bastante seguro, mas há sempre o perigo de cair de repente lá para dentro. Agora ouve o gelo rachar debaixo dele, e a sensação é tão intensa e de tal pânico que ele tem de se pôr de pé por um momento, apertar a cara com as mãos e tomar fôlego. Exala lentamente através dos dedos, depois apressa-se a ir para a cozinha e faz um alarido a atirar os pratos sujos para o lava-loiça.
David Nicholas, Um Dia

2 comentários:

Kok disse...

A minha teoria é:
só está só quem se sente só!

Daí que haja quem se sinta só no meio de uma multidão!
Ou, quem esteja regularmente só e não se sinta só!
Teorias? Pois!
Mas, e não são correctas?

Cris disse...

Em teoria fazem todo o sentido. Concordo com elas, mas na prática... tem dias!